Mistério, místico e misticismo. Estas três palavras, obviamente de significado correspondente, desde o final do século passado têm sido utilizadas com mais frequência, principalmente no meio crescente de pessoas que buscam alguma informação sobre princípios metafísicos e filosóficos, o que é natural, pois entramos na célebre Era de Aquarius, onde a sensibilidade do ser humano e o interesse por assuntos espirituais progressivamente vai aumentando.
Eu mesmo tenho utilizado estes verbetes com frequência em meus artigos.
Mas será que utilizamos estas palavras corretamente? Será que sabemos seu real significado?
O senso comum sobre estes termos é que se referem a tudo aquilo que é considerado sobrenatural, além da compreensão natural, racional e científica, e mágico. Há mesmo quem entenda estas expressões como relacionadas a práticas contrárias a fé religiosa, seja ela qual for. E isto é bastante natural e compreensível pelas razões que veremos adiante.
Os dicionários da língua portuguesa definem o verbete mistério da seguinte maneira: “tudo quanto a razão não pode explicar ou compreender; tudo quanto tem causa oculta ou parece inexplicável; coisa oculta, de que ninguém tem conhecimento; reserva, segredo; proposição difícil de compreender; enigma; ato inexplicável”. É isso mesmo, as definições parecem bem razoáveis e claras. Mas não para aqueles que querem ver “além das letras”. Para este grupo de pessoas acometidas pela sede do saber, é necessário descobrir de onde e por que surgiu a expressão? Afinal, isto em si já é um mistério.
A expressão originou-se do grego mystérion, mas seu significado vem do antigo Egito, que foi o verdadeiro celeiro da filosofia grega. Helena Petrovna Blavatski, a famosa “Madame Blavatski”, mãe da Teosofia e considerada uma das maiores ocultistas de todos os tempos, explica numa forma um tanto hermética, como aliás não poderia deixar de ser, que havia duas classes de Iniciados no Egito, e que tal distinção foi mantida pelos gregos e romanos: os Epoptae e os Mystos. Notem que a grafia já é grega, e refere-se aos Iniciados nos Mistérios (ou Arcanos) Maiores no primeiro caso, e aos Menores no segundo. Epoptae significa “aquele que vê as coisas tais quais são”, e Mystos “aquele que vê as coisas tal como parecem ser”. Madame Blavatski afirma também que em determinada época os primeiros, ou seja, aqueles que realmente compreendem o verdadeiro sentido do Universo, que são os Grandes Iluminados da História, ou os Avatares, tornaram-se reclusos e formaram da Grande Fraternidade Branca, que alguns autores julgam estar localizada em algum lugar do Tibet inacessível aos simples mortais; e os Mystos permaneceram “preparando” a humanidade para compreensão da Verdade, dando origem mais tarde aos Maçons, Rosacruzes, e toda classe de “Iniciados Modernos”.
Não vou me deter na análise dos Epoptae, mesmo porque, independentemente da hipótese por muitos considerada fantasiosa da existência de uma “morada de Iluminados” denominada Grande Fraternidade Branca, a Iluminação dos Epoptae é alcançada por poucos, e o cerne de nossa análise é a expressão “mistério”.
O fato é que os Mystos continuaram trabalhando junto aos seres humanos comuns, e formando novos Iniciados. São famosos os Mistérios de Ísis e Osíris, os Mistérios Persas (de onde surgiu a expressão “mago”); os Mistérios Órficos; os Mistérios de Elêusis, e os Mistérios de Mitra.
A globalização cultural promovida pelas conquistas do Império Romano tornou a expansão das Escolas Iniciáticas apenas uma questão de tempo, e após a conversão de Roma à fé Cristã, o próprio Cristianismo absorveu o conceito na formação de seus sacerdotes. A Doutrina Cristã exorta até nossos dias o “Mistério da Fé”.
Portanto, Mistério nada mais é que todo conhecimento velado, esotérico, podendo ser metafísico, filosófico ou material, ensinado apenas a Iniciados, ou seja, fora do alcance de pessoas pouco comprometidas com os aspectos espirituais do Universo e a humanidade em si; místico é todo aquele que Iniciado ou não busca a Verdade e uma melhor compreensão da Grande Obra de Deus, e misticismo é exatamente esta prática sagrada, dedicada e nobre, material e espiritual, humana e divina, ascensional e progressista.
Resta claro também que os mistérios tratados aqui não são os mesmos dos livros de Agatha Christie, que aliás são muito bons, não é mesmo?
SERGIO EMILIÃO
M.I.
F R+C
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