O adjetivo esotérico e o substantivo esoterismo ganharam no século passado a conotação de tratar-se de tudo aquilo que é ligado ao espiritual, ao metafísico, ao ocultismo, à magia, ao sobrenatural e por aí afora. Com isso é comum entre nós utilizarmos estas expressões para nos referirmos a terapias alternativas, matérias ligadas a filosofia e religião, e até mesmo a superstição. Porém isso é um erro.
O termo esotérico, e consequentemente sua prática ou atributo, o esoterismo, não possuía originalmente este significado atual por vezes fantasioso.
A maioria dos autores defende que a origem da expressão se deve ao filósofo grego Pitágoras de Samos e da Escola Iniciática por ele fundada na Grécia que recebeu o seu nome. Jâmblico (240-330 a.C.) assim se referia aos discípulos de Pitágoras: “Estes, se tivessem sido julgados dignos de participar nos ensinamentos graças ao seu modo de vida e à sua civilidade, após um silêncio de cinco anos, tornavam-se daí em diante esotéricos, eram ouvintes de Pitágoras, usavam vestes de linho e tinham direito a vê-lo”.
Particularmente entendo que o conceito é bem anterior a Escola Pitagórica, e que foi importado do Egito. Mas, de toda forma, não há dúvida de que o verbete utilizado por nós ocidentais originou-se do idioma grego. Além do mais, os princípios e regras Iniciáticas adotadas por Pitágoras em sua escola eram exatamente os mesmos utilizados pelas Escolas Iniciáticas do Egito. Por esta razão creio que a análise possa prosseguir a partir da Grécia.
Pitágoras ministrava ensinamentos mais complexos a um grupo seleto de Iniciados que se reuniam num local reservado, discreto e protegido de curiosos, formando uma espécie de círculo fechado, que originou o verbete esotérico, do grego eisô ou êso, (do lado de dentro, internamente, como em esôfago, por exemplo), acrescido do sufixo teros que é um comparativo que dá a ideia do significado do prefixo. Assim, aqueles que tinham permissão para participar de seu círculo íntimo de discípulos, que recebia ensinamentos mais elaborados e de compreensão mais difícil para os cidadãos comuns eram chamados de esôterikos.
Em contrapartida, havia também os seguidores que não tinham condições de receber informações de nível mais elevado, e o povo em geral. Estes recebiam ensinamentos mais simples, de forma aberta e publicamente, dando origem a palavra eksôteriko, derivada do prefixo eksô (do lado de fora, externo) e do mesmo sufixo de seu antônimo, citado no parágrafo anterior.
Vimos isso se repetir mais tarde com Jesus e seu círculo fechado de Apóstolos ao qual segundo os Evangelhos eram ministrados ensinamentos velados, mais complexos, enquanto o povo era ensinado por meio de parábolas.
O que deve ser observado é que apesar de possuir princípios elevados e filosóficos em sua doutrina, a Escola Pitagórica tratava também em seu meio mais íntimo de estudos avançados da Ciência, como Matemática e Geometria, por exemplo. Isto quer dizer que o adjetivo esotérico originalmente era aplicado a todo ensinamento reservado, Iniciático, cuja absorção dependia de certas circunstâncias especiais e das características de quem os recebia. Logo, o termo contrário, exotérico, era utilizado para designar tudo aquilo classificado como de domínio público, que podia ser transmitido abertamente e sem restrições.
Não devemos, portanto, confundir esotérico com espiritual ou místico. Aliás, o adjetivo místico, e o substantivo misticismo são as expressões que na minha opinião melhor definem o conceito de esotérico e esoterismo que é utilizado comumente, mas isso é assunto pra outra ocasião.
Enfim, resumidamente falando, esotérico é particular (por qualquer razão), e exotérico é público. Simples assim, pelo menos na minha opinião.
SERGIO EMILIÃO
M.I.
FR+C