Sei que nada sei de carnaval, exceto que, carnaval é sinônimo de carnaval, por isso os desfiles podem servir para protestar, evocar, adular e relembrar. O direito da livre expressão é exatamente a liberdade que todos têm de retratar os fatos de acordo com suas convicções, mas o direito de cada um se encerra quando começa o direito de outrem, por isso nada mais essencial que um árbitro para decidir um conflito e isso sempre gerará polêmica, que é exatamente o inalienável direito de dizer, consagrado por Voltaire.
Eu nunca vi qualquer manifestação artística ou documental amontoando os corpos das vítimas do atentado de onze de setembro, nem o amontoado de corpos dos milhões de índios que foram dizimados nas américas colonizadas, nem dos corpos de milhões de negros que pereceram durante a escravidão, nem das vidas ceifadas em conflitos mundiais, só na segunda guerra mundial foram quarenta milhões. É natural que todos os povos defendam a memória de seus mortos, mas se esses genocídios fossem, diuturnamente, expostos à execração da humanidade, quem sabe correríamos menos riscos de reincidência. Não obstante os gritos do inconsciente coletivo contra o holocausto, infelizmente não têm sido suficientes para evitar que milhões de vidas continuem perecendo em virtude da intolerância, política, ideológica, religiosa e comercial do imperialismo que assola o mundo.
É muito provável que a exposição de cadáveres não seja o caminho para dar fim à banalização da vida mas é imperativo que todos os veículos de manifestação cultural se ocupem de promover a permanente indignação contra todo e qualquer crime motivado pela discriminação.
Isaac Domingos
Mestre Maçom
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