Colunista Sérgio Emilião

A Vaidade

Quem assistiu ao filme Advogado do Diabo há que se lembrar da cena final, na qual a personagem interpretada por Al Pacino, que é o próprio diabo se volta para a câmera e diz: A vaidade é meu pecado favorito!  Poucas vezes temos a oportunidade de ver citações de igual profundidade em filmes desenvolvidos para o mero entretenimento.  Com efeito, se deixarmos de lado o controverso conceito de pecado, e refletirmos um pouco sobre a vaidade, verificaremos, como no filme, que esta é uma das características que mais obstruem a evolução do ser humano.

A vaidade é a exacerbação do amor próprio, uma supervalorização do ego, faz o indivíduo se julgar superior a tudo e a todos. Se expressa de diversas maneiras: fisicamente, nas vestimentas, socialmente e até intelectualmente. A pessoa vaidosa nada aprende, pois pretensamente acha que ninguém é mais belo, mais bem posicionado ou mais sábio. E com esta atitude apenas individualiza sua personalidade, e não evolui.

O verdadeiro místico sabe que vencer suas vaidades é subir um degrau na sua evolução. Todos nós devemos nos preocupar com a aparência, é claro, mas não devemos nos exibir ou nos sentirmos superiores em nenhuma circunstância. O primeiro passo na senda mística é exatamente a negação do ego, por isso o místico se expressa na primeira pessoa do plural, e não o faz por uma simples questão de retórica. Ele sabe que é o que é devido à humanidade como um todo, e ao Criador. Afinal somos todos iguais perante Ele, porque possuímos Sua essência.

O imenso perigo oculto por trás da vaidade é a distorção do verdadeiro Amor, que enraíza-se em nós mesmos dificultando a observação do mundo exterior. A própria palavra vaidade deriva do latim “vanus” que significa “vazio”. E é isto mesmo, toda pessoa vaidosa preocupa-se mais com seu lado exterior que com o interior, e desta desarmonia surgem vários infortúnios, quase sempre acompanhados da ambição.

Há quem retruque, e diga que a individualização da personalidade é o caminho natural a ser trilhado por quem almeja a perfeição. Mas não é disto que estamos falando.

Será que existe alguma ambição maior do que a do bem servir? Haverá maior ambição do que a de realizarmos as coisas para as quais Deus nos deu capacidade e habilidade? Poderemos alcançar maior perfeição do que aquela que nos capacite a espargir Luz em nosso meio? Não está mais próximo da perfeição aquele que, até o fim de sua vida, manteve ou reteve as qualidades e atributos perfeitos que nele foram insuflados pelo Criador no seu nascimento? Pode a obra de Deus ser aperfeiçoada pelo homem, ou será esta tentativa um indício de vaidade e presunção? A resposta cabe a cada um de nós.

Além do mais, a personalidade é a expressão de alguém na vida. Não a forma do seu corpo, suas feições, a qualidade de sua roupa, nem os seus bens terrenos, mas seu caráter, sua Luz, conforme ela brilha e se manifesta no corpo e através dele. Essa personalidade não é algo que possamos individualizar, mas algo que pode ser levado a se manifestar ao máximo que lhe é possível, de maneira que a divindade que existe no interior de cada um de nós possa se revelar em todo seu esplendor. Não como uma individualidade isolada ou separada, mas como um lampejo divino, uma radiação da Mente de Deus.

Regozijem-se os humildes, pois no que se refere ao corpo não são as características individuais que contam; alegrem-se ainda pelo fato de que aquilo que neles é real, que tem que fazer, e que tem que dar e oferecer em serviço, é uma parte do Todo, uma parte inseparável, pequena e temporariamente em seu corpo, que não pertence ao corpo nem a eles mesmos, mas que está sendo utilizada como um instrumento.

Tudo que podemos fazer é preservar este instrumento e mantê-lo harmonizado com o Poder Infinito, que é indivisível.

A propósito, para quem não assistiu ao filme, é uma boa dica.

Sérgio Antonio Machado Emilião
M.M.  F R+C
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