Colunista Sérgio Emilião

Alquimia Interior

Quando ouvimos falar em alquimistas logo nos vem à mente a imagem de personagens misteriosos, cercados de potes, caldeirões, poções mágicas, livros estranhos, possuídos pela obsessão de descobrir o “elixir da vida eterna”, e de transmutar qualquer metal em ouro, utilizando para isto um ingrediente secreto e que somente eles conhecem denominado “Pedra Filosofal”.Também é comum imaginarmos os alquimistas sendo perseguidos religiosamente e queimados vivos como bruxos, porém, se deixarmos o folclore e as superstições de lado, veremos que eles deixaram um importante legado para a humanidade. É evidente, aliás, como em qualquer ramo de atividade humana, que existiram os charlatães e os aproveitadores da boa fé alheia, mas entendemos que isto são seja suficiente para invalidar suas pesquisas, afinal Nicolas Flamel, Paracelso, e Jacob Boehme, dentre outros, são exemplos disto. Os alquimistas podem ser considerados como “proto-químicos” pelo seu estudo das propriedades dos elementos e substâncias, ou como “pré-cientistas” pelo desenvolvimento do método de trabalho em laboratório, e isto é inegável. A etimologia da palavra alquimia é incerta, sendo que a maioria absoluta das correntes credita o verbete à expressão árabe “al kimiya”.   Boa parte dos autores a traduz como “a química”, muito provavelmente pelas razões mencionadas anteriormente, nós, porém, preferimos adotar a tradução mais direta e menos “ocidental”, que nos dá o significado de “arte mágica da Terra Negra”. Esta é uma referência ao norte do Egito e ao Delta do Nilo – basta lembrar que os egípcios eram peritos no manuseio dos metais, e que conheciam os “poderes mágicos” de determinadas ligas metálicas.
Os verdadeiros alquimistas eram na realidade místicos que registravam metodicamente – e às vezes de forma cifrada – os resultados de seus estudos e pesquisas da natureza, do Universo e das Leis Cósmicas. E já que estamos falando de alquimia, não podemos deixar de fora a máxima atribuída a Hermes Trimegisto em sua célebre Tábua de Esmeraldas: “o que está em cima é como o que está em baixo”. Talvez este seja o maior legado deixado pelos alquimistas, e que na maioria das vezes não nos damos conta – o corpo humano é o microcosmo, retrato exato do macrocosmo com todas as suas Leis e princípios. Temos dentro de nós mesmos o laboratório mais perfeito que qualquer alquimista jamais imaginou, e ainda mais, sob nosso inteiro comando!
Possuímos uma “bomba” que é capaz de proporcionar pressurizações fantásticas, alternadas, e até controladas; temos “filtros” capazes de separar gases com uma eficiência inigualável; possuímos uma rede de “vasos comunicantes” que opera sem necessitar do auxílio da força da gravidade; somos dotados de verdadeiras “usinas de energia” nas mitocôndrias; produzimos correntes e pulsos elétricos tão precisos e exatos que nos fazem capazes de mover todo nosso corpo. Isto sem falarmos nos sais minerais, metais e demais elementos de nosso corpo. 
Talvez seja interessante perdermos algum tempo conhecendo mais nosso corpo e ampliando esta lista de analogias. Depois disto, como exercício seguinte, tente imaginar que uma parte de sua mente, que você sequer tem o trabalho de instruir, é responsável pelo funcionamento de todo este sistema. Será que você também é capaz de controlá-la?
Vislumbrar estas situações nos dias de hoje é muito fácil com toda tecnologia que dispomos, mas não na época dos alquimistas.   Será que eles sabiam disto? Podemos até não ter certeza, mas afirmamos sem medo de errar que eles sabiam que algum princípio divino, senão a própria divindade, estava presente em todos estes processos.   Toda manifestação neste plano de existência é dual, portanto é muito importante conhecer tanto seus atributos físicos, quanto seus atributos espirituais.             
O Verdadeiro místico dá ao seu bem estar físico a mesma importância que destina ao seu desenvolvimento espiritual.   Como se fosse um alquimista ele cuida de seu corpo físico procurando mantê-lo sadio e em perfeito funcionamento. Isto se consegue através da respiração, da alimentação, de exercícios físicos, da higiene, e, principalmente, de pensamentos construtivos e de uma mente equilibrada. 
Há diversas correntes filosóficas que ensinam métodos para alcançarmos o equilíbrio entre o corpo e a Alma, você pode pesquisá-las facilmente e encontrar aquela que mais se adapta às suas convicções.   Siga sua “intuição”, isto normalmente provoca resultados surpreendentes.             
Pensemos a respeito disso: hoje, antes de dormir, perca uns minutos fazendo algumas reflexões: você tem se comportado como um alquimista em relação a você mesmo?   Como tem tratado seu corpo?   Seus pensamentos têm sido construtivos?
Temos certeza que depois disto você vai querer purificar seu “laboratório” para tornar-se perfeito. 
Quem sabe a “Pedra Filosofal” tão almejada pelos alquimistas não é também o caminho da interiorização e da busca da perfeição espiritual para a correta compreensão da imortalidade da Alma?

 

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