A Polêmica da Viradouro
Sei que nada sei de carnaval, exceto que, carnaval é sinônimo de carnaval, por isso os desfiles podem servir para protestar, evocar, adular e relembrar. O direito da livre expressão é exatamente a liberdade que todos têm de retratar os fatos de acordo com suas convicções, mas o direito de cada um se encerra quando começa o direito de outrem, por isso nada mais essencial que um árbitro para decidir um conflito e isso sempre gerará polêmica, que é exatamente o inalienável direito de dizer, consagrado por Voltaire. Eu nunca vi qualquer manifestação artística ou documental amontoando os corpos das vítimas do atentado de onze de setembro, nem o amontoado de corpos dos milhões de índios que foram dizimados nas américas colonizadas, nem dos corpos de milhões de negros que pereceram durante a escravidão, nem das vidas ceifadas em conflitos mundiais, só na segunda guerra mundial foram quarenta milhões. É natural que todos os povos defendam a memória de seus mortos, mas se esses genocídios fossem, diuturnamente, expostos à execração da humanidade, quem sabe correríamos menos riscos de reincidência. Não obstante os gritos do inconsciente coletivo contra o holocausto, infelizmente não têm sido suficientes para evitar que milhões de vidas continuem perecendo em virtude da intolerância, política, ideológica, religiosa e comercial do imperialismo que assola o mundo.É muito provável que a exposição de cadáveres não seja o caminho para dar fim à banalização da vida mas é imperativo que todos os veículos de manifestação cultural se ocupem de promover a permanente indignação contra todo e qualquer crime motivado pela discriminação. Isaac DomingosMestre Maçom {backbutton}
Quem Matou Taís?
Depois que minha filha me disse que uma pesquisa na internet indicou que 84% da população brasileira tinha como principal interesse saber quem matou Lineu, achei que não poderia ficar de fora dessa estatística.Sábado decidi assistir à reprise do último capítulo da novela, não obstante todos os matutinos ocuparem suas primeiras páginas para divulgarem a notícia.O que vi foi deprimente. Não pelas cenas de violência mas pela violência de utilizarem nas gravações uma criança, que estampava no rosto o pânico.Lamento que os formadores de opinião, que dispõem de espaço na mídia, não condenem, veementemente, essa violação ao Estatuto da Criança e do Adolescente.Isto foi em meados de 2004. Agora que a população brasileira está ansiosa para descobrir quem matou Taís – a gêmea má de Paraíso Tropical – me ocorreu reler esta carta e constatar que o principal produto comercializado pela mídia é a violência. Quando não dispõe de fato real usa a ficção para confinar as famílias em torno de um aparelho de TV, que parece não saber mais viver sem conviver com a violência. A conseqüência é insana. O que vemos é uma população empedernida, quase dependente da violência, fazendo dela sua própria razão de viver. E lá se vão os valores da fraternidade.Os jornais de hoje falam de uma platéia, que delira com as cenas de tortura de um filme que ainda não foi lançado mas já é sucesso de audiência, justamente pelo tema que aborda. A violência. (26/09/2007)Isaac Domingos da Silva {backbutton}
Violência Gera Violência
“Gentileza gera gentileza”. Por anos a fio Gentileza espalhou pela cidade o seu grito de paz, seu gesto de amor e a sua obstinação contra a violência e é, por ironia, exatamente a população que presenciou, durante longos anos, a pregação do profeta, que hoje vive amedrontada, acuada pela violência.Gentileza em sua frase singela dizia que violência é ao mesmo tempo causa e efeito.Os meios de comunicação costumam tratar a violência como uma fera, que hiberna, e, principalmente nos períodos eleitorais, sai da toca, faminta e pronta para devorar os cidadãos cariocas. Durante as campanhas, os jornais se enchem de fatos trágicos que depois desaparecem. Parece que a paz voltou a reinar. Ledo engano. E é exatamente isso que também compõe o quadro da violência. Sua utilização por conveniência.Um arrastão assusta e é uma grande violência. Igualmente é violência os desvios de verbas públicas. Só que os jornais os estampam sem o rótulo da violência.Há a violência motivada pelo submundo, pela casta dominante e pelo poder econômico. Essa jamais se acabará enquanto prevalecer os sistemas de dominação e passará sempre para as gerações futuras como história: Segunda Guerra Mundial. 55 milhões de mortos, 35 milhões de mutilados, 20 milhões de órfãos, 190 milhões de refugiados etc.Mas há também uma violência que impregna nosso dia-a-dia, que podemos mitigá-la, quiçá evitá-la, porque é uma violência sem motivação, sem cabimento. Qualquer estatística demonstra que 80% dos atos violentos são praticados por familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Segundo a UNICEF 18 mil crianças e adolescentes são espancados diariamente no Brasil por familiares e isto é a principal causa de morte de jovens entre 5 a 19 anos.Exceto a possibilidade de tratar-se de um tipo de doença social, não há justificativa para tanta agressividade. Quantos não saem de casa sem antes se persignarem e bastam entrar em seus carros para assumirem atitudes agressivas. O resultado, parodiando o profeta Gentileza, só pode ser: Violência gera violência.Vamos refletir sobre o que podemos fazer para diminuirmos a violência, sem sentido, sem justificativa, sem causa e sem ideologia.Quem sabe prestemos atenção na música da Angélica que diz: “Há palavras mágicas que tem o poder maior que abracadabra…”. Isaac Domingos da SilvaMestre Maçom {backbutton}